Eduardo Ribeiro Mundim
Como
médico cristão, sinto-me compelido, pelas reações à campanha
governamental de vacinação anti-HPV1,
a colocar os pontos abaixo para discussão com todos aqueles
interessados.
Entendo
que o governo da sociedade civil tem origem divina, com a missão de
zelar pelo interesse comum, buscando as melhores condições de vida,
saúde, educação e recreação a todos os cidadãos, sem nenhuma
distinção que não seja originada de preceito legal.
Entendo
que, mesmo sendo de origem divina, o governo da sociedade civil não
deve ser tributário de nenhuma confissão religiosa – tal
subordinação implicaria em elevar uma à condição superior às
demais.
Entendo
que quando um governo deixa de tomar uma medida, dentro do estatuto
legal que o rege, que reduz o número de pessoas doentes e impede o
sofrimento desnecessário é negligente com seus deveres.
A
vacinação anti-HPV deve ser entendida neste contexto.
Não
é a única medida efetiva contra a infecção por este vírus. Mas
ao pensar nas possibilidades de contaminação e transmissão no meio
de quase 200 milhões de pessoas é, sem dúvida, a mais realista e
eficaz.
Por
isso, como cristão, entendo ser imperativo ético, do qual não
posso me furtar, apoiar a campanha de vacinação anti-HPV. Este
mesmo me constrange a apontar, se necessário, desvios indesejáveis
e propor correções.
Entendo
que os irmãos que a ela se opõe o fazem levando em consideração
situações particulares de vida, que não são o retrato da maioria
da população brasileira. O mesmo imperativo ético nos impõe a
fidelidade conjugal, dentro da qual não há o que temer qualquer
doença sexualmente transmissível.
O
amor à verdade força-me a não fechar os olhos ao que presencio no
labor profissional cotidianamente: que cristãos frequentemente não
praticam aquilo que suas denominações religiosas ensinam como
vontade de Deus para suas vidas.
Qualquer
metodologia de pesquisa tem suas falhas inevitáveis, o que não
invalida, necessariamente, suas conclusões. O que vejo enquanto
profissional da saúde, ao menos uma pesquisa aponta como fato2.
Quase 2% dos homens evangélicos já mantiveram relações sexuais
com travestis; mais que 50% de homens e mulheres evangélicos
mantiveram relações sexuais com seus esposo(a)s antes do
matrimônio; quase 12% das evangélicas e 25% dos evangélicos
admitem terem traído seus cônjuges.
Portanto,
tenho que apontar aos irmãos contrários à campanha, que o ideal
defendido ainda não é o real, e a campanha tem o potencial de
proteger a todos.
Discordo
que a vacinação seja um incentivo à prática sexual precoce. Se
assim o fosse, também seria um incentivo a informação da
existência de preservativos e anticoncepcionais; a não separação
entre os sexos nos momentos de culto e estudo bíblico; a própria
sexualidade individual, que somente pode ser reprimida ao preço alto
de doenças psicológicas.
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