Esta não é uma questão fácil de responder. Há determinados aspectos que complicam a pesquisa. Por exemplo: se a sociedade vê com simpatia as diversas expressões de gênero, as pessoas se sentirão mais à vontade para se manifestarem; é razoável supor que, a medida que aumentar a intolerância com as diversas expressões de gênero, mais difícil será se identificar. Outro problema: como fazer a pergunta? A elaboração da questão já traz, em si, uma resposta. “Você está satisfeito com seu sexo?” é diferente de interrogar “Você se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer?” O entrevistador tem que se lembrar que conceitos não são compreendidos da mesma forma por todas as pessoas da sociedade, mesmo naquelas com alto nível educacional. Sexo e gênero não são sinônimos, mas muitos entendem que sim.
As publicações científicas sobre a prevalência (o número total de pessoas com certa característica em determinado momento entre determinada população) utilizam duas estratégias diferentes, que dão resultados também diferentes. Usando a contagem de pessoas que se identificam com trans e que buscam auxílio médico por essa razão, para algum apoio hormonal ou para procedimento de transgenitalização, temos as seguintes contagens:
tabela I
|
autor
|
data
|
onde
|
resultado
|
no Brasil seriam (1)
|
Pauly IB (2)
|
1.968
|
*
|
0,4:100.000**
|
837
|
Eklund PL (3)
|
1.976-1.980
|
Holanda
|
1,22:100.000
|
2.553
|
Eklund PL
|
1.976-1.983
|
Holanda
|
1,58:100.000
|
3.306
|
Eklund PL
|
1.976-1.986
|
Holanda
|
2,77:100.000
|
5.798
|
Landen (4)
|
1.972-1.996
|
Suécia
|
3,42:100.000
|
7.116
|
* não foi possível localizar o artigo original
** significa que em 100.000 pessoas haverá 0,4 pessoa trans
Pesquisadores que avaliaram o total de pessoal que solicitaram legalmente a modificação do gênero atribuído ao nascer encontraram:
tabela II
|
autor
|
data
|
onde
|
resultado
|
no Brasil seriam(1)
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Weitze (5)
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1.972-1992
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Alemanha
|
2,1:100.000
|
4.395
|
Dhejne (6)
|
1.960-2.010
|
Suécia
|
16:100.000
|
33.488
|
Quando o estudo é realizado perguntando às pessoas se elas se consideram transgêneras, temos o seguinte quadro:
tabela III
|
autor
|
data*
|
onde
|
resultado
|
no Brasil seriam(1)
|
Conron (7)
|
2012
|
EUA
|
500:100.000
|
1.046.500
|
Kuyper (8)
|
2014
|
Holanda
|
1300:100.000
|
2.720.800
|
Van Caenegem (9)
|
2015
|
Bélgica
|
1900:100.000
|
3.976.700
|
* da publicação do estudo
Até a data de publicação deste texto, não foi encontrado estudo científico que fale sobre o número de pessoas transgêneras no Brasil. Há algumas evidências indiretas:
- reportagem da Jovem Pan, de 30 de janeiro de 2020, informa que 6.086 pessoas mudaram de nome e gênero, nos cartórios, desde 2018. Como houve modificação de gênero, é razoável supor que são pessoas transgêneras. Este número está entre os dois maiores números das tabelas I e II
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