quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Médico, o sonho e o (des)encanto II

A Associação Médica de Minas Gerais realizou nos dias 20 e 21 de novembro de 2009 um fórum com este nome. Abaixo, algumas anotações e considerações pessoais (estas em itálico).

Fé e Ciência
Fé e ciência são duas experiências subjetivas. A primeira lida subjetivamente com experiências subjetivas; a segunda lida subjetivamente com fenômenos objetivos. A fé é conduzida por uma imaginação que carece razão, e a ciência por uma imaginação tolhida pela razão. Mas, como diz Rubem Alves no seu livro "Filosofia da ciência: introdução ao jogo e as suas regras", os grandes avanços da ciência se deveram a imaginação do cientista.

A fé conduz à dependência, à uniformidade, à tradição e à intolerância. A ciência, à independência, à dissenção, à pesquisa e à tolerância. Afirmativa que precisa ser vista com cautela. A fé pode ser vivenciada de modo institucionalizado ou não. Caso siga cânones, haverá uma tendência à uniformidade (que tem espaço para a não-conformidade) e consequentemente à tradição, que podem facilmente gerar a intolerância. Mas Lutero, um atormentado homem de fé, reviu a ortodoxia, acabou com a uniformidade e reviu a tradição. Em parte devido a sua neurótica dependência de um esquema de fé, fez renascer a tranquila intranquilidade da salvação pela fé - idem para os demais reformadores (Calvino e Wesley). Somente os não cientistas, aqueles que não vivem profissionalmente da ciência, acreditam que a Academia seja um território de livre expressão do pensamento (por exemplo, desing inteligente), sem tradição (e as cerimônias de colação de grau?) e tolerantes.
 
A força da fé está em sua fraqueza : a imposição. O poder da ciência, na sua transitoriedade e liberdade. Nesta, pode haver certeza graças à confiança; naquela, há muita confiança e pouca certeza. Em ambas, a verdade é relativamente suposta e interpretada.

O assunto fé e ciência é repleto de armadilhas. A universal é não poder ser objetivo, ou seja, não subjetivo. Provavelmente é característica humana básica emocionar-se com o assunto e sentir-se mobilizado emocionalmente com ele, traindo a própria experiência individual.

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