domingo, 22 de novembro de 2009

O Médico, o sonho e o (des)encanto

A Associação Médica de Minas Gerais realizou nos dias 20 e 21 de novembro de 2009 um fórum com este nome. Abaixo, algumas anotações e considerações pessoais (estas em itálico).

Qual médico está sendo formado?
Existe uma diferença entre o currículo real e o ideal. O primeiro, é aquele que efetivamente ocorre; o segundo, aquele que é proposto.
E a sociedade organizada não é chamada a moldar o ideal, mas o Estado, no uso de suas atribuições, arroga-se o conhecimento do que é melhor para o povo... E não ensina ao estudante como lidar com as expectativas disseminadas por todos os estratos sociais a respeito do seu desempenho e nem convoca esta mesma população a ter "o pé no chao" neste sentido.

Dentro de ambos, a autonomia, inclusive para estudar, é incentivada desde cedo.
O currículo ideal propõe, ao final da graduação, dois caminhos distintos: a residência médica (desejada por mais de 95% dos formandos) e o mercado de trabalho. Este busca sempre profissionais para as áreas mais difíceis: pronto-socorro, pronto-atendimento e áreas de atenções primária e secundária da rede pública.
Parece existirem diversos conflitos entre estes dois desfechos. Pronto-socorro pede um médico mais experiente (pelo menos quando o serviço é realmente de urgência, e não apenas um pronto-atendimento que objetiva dar vazão a uma demanda ambulatorial reprimida), e esta experiência acontece no decorrer do tempo após a formatura, e seu melhor ambiente é o de uma residência médica ou curso de pós-graduação reconhecido por uma sociedade de especialidade médica.
A ausência de vagas em residência médica ou pós-graduação reconhecida pela sociedade da especialidade (um dos caminhos para a obtenção de título de especialista) suficiente para todos os formandos (por volta de 2000/ano apenas em Minas Gerais) torna o processo seletivo cruel, pois exclue aqueles que mais precisam de treinamento (as menores notas) e tira do mercado de trabalho imediato os supostamente melhor preparados (as maiores notas). A partir do momento que a Comissão Nacioanal de Residência Médica deixou de exigir dedicação exclusiva dos residentes, o mercado passou a ter profissionais em treinamento. O que cria situações curiosas: o médico A é um médico em treinamento na instituição X, mas na Y ele é o chefe do plantão!

Sendo o "cartão de visitas" de muitos pacientes algo que vai além do que é ensinado nas escolas médicas, como é possível esperar que o médico auxilie aquele paciente "que não tem nada" quando isto não lhe é ensinado de forma sistemática?

As prefeituras se queixam da dificuldade de contração de médicos, mas não necessariamente é o salario que fixa o médico, mas as condições de trabalho. E não serão estas idealizadas pelo recem-formado, que ainda está com o senso crítico em processo de construção no que diz respeito ao exercício da profissão?

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